A quantidade de drogas apreendidas pelas polícias Militar e Civil no estado de São Paulo no primeiro semestre deste ano foi 50% superior ao volume de entorpecentes interceptados no mesmo período de 2020.
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública obtidos com exclusividade pela GloboNews, houve no período uma alta de 99,9 toneladas para 150 toneladas de drogas retiradas de circulação pelas forças de segurança.
Esses números representam o total de entorpecentes apreendidos ao longo dos seis primeiros meses de cada ano. São a soma dos quantitativos de quatro indicadores: maconha, cocaína, crack e outras drogas. Em todos eles, 2021 contabilizou uma alta em relação a 2020.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, os seis primeiros meses deste ano registraram, pela primeira vez desde 2001, início da série histórica, um volume superior a 100 toneladas.
Entorpecentes apreendidos anualmente no estado de SP (de janeiro a junho)
2010 – 19,8 toneladas
2011 – 29,3 toneladas
2012 – 32 toneladas
2013 – 28,9 toneladas
2014 – 32,2 toneladas
2015 – 56,4 toneladas
2016 – 75,5 toneladas
2017 – 75,9 toneladas
2018 – 77,2 toneladas
2019 – 81,5 toneladas
2020 – 99,9 toneladas
2021 – 150 toneladas
Maconha responde por 87% das apreensões
As polícias estaduais apreenderam 130,8 toneladas de maconha no primeiro semestre deste ano, o equivalente a 87% das 150 toneladas de entorpecentes retiradas de circulação no período. Esse número representa também um aumento de 53% em comparação com as 85,7 toneladas dessa droga interceptadas ao longo dos seis primeiros meses de 2020.
A cocaína foi a segunda droga com maior volume apreendido no primeiro semestre deste ano (14,2 toneladas, 29% a mais do que as 11 toneladas interceptadas no mesmo período de 2020).
O crack contabilizou a maior alta percentual no mesmo comparativo, de 117%. A alta verificada foi de 926,3 kg para 2 toneladas.
A variação dos volumes apreendidos de todas as outras drogas, juntas, foi de 2,1 toneladas para 2,8 toneladas, uma alta de 32%.
Novas tecnologias
Para o tenente Maxwel Celestino De Souza, porta-voz da Polícia Militar, uma combinação de diferentes fatores operacionais explica a apreensão recorde de drogas ao longo dos seis primeiros meses deste ano.
“É um trabalho conjunto das polícias, que emprega novas ferramentas operacionais, ferramentas tecnológicas, uma estratégia também nova para a atuação no combate à criminalidade. Nós temos um treinamento mais efetivo acontecendo a cada dia na Polícia Militar, temos a adoção de novas tecnologias que são empregadas no combate à criminalidade”, explica o tenente.
Uma das ferramentas citadas pelo oficial é o uso de drones para auxiliar nas prisões e nas apreensões dentro de locais de difícil acesso.
“Há uma dificuldade [em realizar incursões em favelas], um terreno difícil para o policial acessar, e o criminoso acaba tendo uma facilidade por conhecer aquele local. Com a chegada da viatura, ele acaba conseguindo fugir, por meio das casas, subindo telhados. O emprego do drone possibilita o acompanhamento em tempo real da movimentação do criminoso. Quem está operando o equipamento vai passando as informações para o policial que está em terra, que consegue chegar nesse criminoso, consegue prendê-lo e consegue fazer a apreensão das drogas.”
O tenente cita também o aprimoramento de softwares utilizados para mapear a prática criminosa, o emprego de grandes operações e a expertise do policiamento rodoviário como fatores importantes por trás da alta das apreensões.
“O policial do policiamento rodoviário tem uma expertise muito grande, tem um conhecimento concentrado muito específico, ele é especialista nisso. Um pequeno sinal de suspeição é suficiente para uma abordagem. E resulta em apreensões, por exemplo, como a que tivemos em Araraquara no dia 12 de fevereiro. Foram 8.560 kg de maconha em uma única ocorrência, estavam dentro um caminhão utilizado para transportar ração", diz ele.
Integração ainda deixa a desejar, diz especialista
Na avaliação do professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rafael Alcadipani, é fato que, de uns anos para cá, as polícias aprimoraram as suas ferramentas de tecnologia. Todavia, não são só fatores operacionais que contribuem para o aumento das apreensões de entorpecentes.
“Existe, sim, uma melhoria de inteligência e de novas tecnologias. Mas a integração é algo que deixa bastante a desejar, não há uma integração que esteja a contento. Toda vez que a gente vê essa quantidade grande de drogas sendo apreendida, existe uma possibilidade de que está entrando muita droga no Brasil. Como se trata de um mercado ilegal, é muito difícil saber, de fato, o que está acontecendo. No meu ponto de vista, existe uma demanda maior, existe uma entrada maior de drogas do país, e uma maior tecnologia para realizar essas apreensões.”
De acordo com o especialista, o tráfico de drogas é uma atividade fundamental para o crime organizado e, por isso, o seu combate deve ser encarado como prioridade pelas forças de segurança.
“A droga é o grande sustentáculo do crime organizado, é aquilo que gera dinheiro para as grandes quadrilhas. A gente precisava, fundamentalmente, de uma força-tarefa, que juntasse Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, inteligência do Exército, [Agência Brasileira de Inteligência] Abin, para combater o crime organizado com a força total do estado e articulada. O que acontece hoje é ainda um combate muito desarticulado. Infelizmente, no Brasil, as polícias muito mais competem do que trabalham juntas", afirma Alcadipani.