Pelo menos 78 pessoas morreram e mais de 100 foram resgatadas depois que um barco de pesca que transportava migrantes naufragou na costa sul da Grécia.
O número total de pessoas a bordo ainda não foi confirmado, mas relatos de sobreviventes apontam para até 750.
O governo do país afirmou que esta é uma das maiores tragédias migratórias da Grécia e declarou três dias de luto.
Equipes de resgate seguem nas buscas em uma grande operação, mas a expectativa de encontrar pessoas com vida reduz à medida que o tempo passa.
À BBC, um dos médicos do hospital geral da cidade grega de Calamata que está tratando dos sobrevivente afirmou que até 100 crianças poderiam estar à bordo.
"Eles (sobreviventes) nos disseram que havia crianças na parte de baixo do navio. Crianças e mulheres", relatou Manolis Makaris, chefe da área de cardiologia.
"Um me passou que havia cerca de 100 crianças; outro, cerca de 50 - então não sei o número certo, mas são várias", acrescentou.
O médico acredita que até 600 pessoas podem ter morrido no desastre.
"Acredito que o número exato de pessoas na embarcação era 750. Essa é a cifra que todos eles me passaram."
Makaris relatou que familiares de crianças egípcias desaparecidas lhe haviam enviado fotografias delas, na esperança de que o profissional de saúde pudesse reconhecê-las caso tivesse contato com elas.
"É uma tragédia", desabafa. "Ninguém na Europa pode aceitar essa situação. Precisamos fazer alguma coisa. Todos precisam fazer alguma coisa para que isso não aconteça novamente", completa.
O número de 100 crianças a bordo foi confirmado por um outro sobrevivente, este entrevistado pelo canal grego de notícias ANT1. A organização Save the Children reiterou a cifra, citando relatos de sobreviventes com os quais teve contato. A BBC não conseguiu verificar de forma independente o número.
O porta-voz do governo grego Ilias Siakantaris afirmou ter recebidos relatos não confirmados de que havia até 750 pessoas na embarcação.
"Não sabemos o que havia no porão... mas sabemos que muitos coiotes trancam as pessoas para manter controle", disse ao canal ERT.
Familiares de desaparecidos começam a chegar a Calamata em busca de notícias sobre seus entes queridos.
Aftab, que viajou do Reino Unido, afirma que pelo menos quatro parentes de origem paquistanesa estavam na embarcação.
"Tivemos a confirmação. Encontramos um deles (no centro de resgate). Mas não conseguimos contato com os outros ainda", contou à BBC.
Um homem sírio vindo da Holanda caiu em prantos ao relatar à reportagem que sua esposa e cunhado estavam entre os desaparecidos.
Naufrágio em 15 minutos
A guarda costeira grega afirmou ter feito contato com o barco na tarde de terça-feira (13/6) e não ter recebido pedido de ajuda na ocasião.
As autoridades do país declararam que o Ministério da Navegação fez contato repetidas vezes com a embarcação e ouviu que os passageiros só queriam chegar à Itália. O relato dá conta ainda de que um cargueiro com bandeira maltesa teria fornecido água e alimento aos migrantes no início da noite de terça e que, três horas depois, um outro navio teria compartilhado água com eles.
Na madrugada de quarta-feira, ainda segundo as informações divulgadas pelo governo grego, o barco notificou a guarda costeira de que seu motor estava com defeito.
Pouco depois, a embarcação virou, levando apenas dez a quinze minutos para afundar completamente.
Uma operação de resgate teve início, mas teve dificuldade de atuar por conta dos ventos fortes.
A organização responsável pela Alarm Phone, uma linha telefônica de emergência para migrantes, afirmou que a guarda costeira da Grécia estaria "sabendo que o navio estava em perigo horas antes de qualquer ajuda ser enviada" e que foi avisada por diversas fontes que o barco estava sob perigo.
A organização acrescentou que as pessoas que estavam no barco podem ter evitado o encontro com autoridades gregas porque estariam cientes das "práticas horríveis" do país com os migrantes.
O diretor regional de saúde da Grécia, Yiannis Karvelis, falou de uma tragédia sem precedentes.
"O número de pessoas a bordo era muito maior do que a capacidade permitida para aquele barco", afirmou Karvelis.
O comandante da guarda costeira Nikolaos Alexiou disse à TV pública que seus colegas viram pessoas amontoadas no convés e que o barco afundou em uma das partes mais profundas do Mediterrâneo.
Os sobreviventes foram levados para a cidade de Calamata — e muitos deles foram conduzidos ao hospital com hipotermia ou ferimentos leves.
A ERT disse que três pessoas suspeitas de serem coiotes foram levadas para a autoridade portuária central de Calamata e estão sendo interrogadas.
A presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, visitou alguns dos resgatados e expressou sua tristeza por aqueles que se afogaram.
A cada ano, centenas de pessoas morrem tentando cruzar o Mediterrâneo. Em fevereiro, um barco que transportava migrantes virou perto de Cutro, no sul da Itália, matando pelo menos 94 pessoas — um dos incidentes com migrantes mais mortais já registrados.
Yiorgos Michaelidis, representante do Ministério da Migração da Grécia, disse ao programa World Tonight da BBC que a Grécia várias vezes pediu que à União Europeia que apresente uma política de migração "sólida" para "acolher pessoas que realmente precisam e não aquelas que têm dinheiro para pagar os contrabandistas".
"Neste momento, são os contrabandistas que decidem quem vem para a Europa", disse Michaelidis.
"A questão é que a União Europeia (UE) deve fornecer asilo, ajuda e segurança para aqueles que realmente precisam. Não é um problema da Grécia, Itália ou Chipre... A UE é quem deve concluir uma sólida política migratória."
A Grécia é uma das principais rotas de entrada na União Europeia para refugiados e migrantes do Oriente Médio, Ásia e África.
No mês passado, o governo grego foi alvo de críticas internacionais por imagens que supostamente mostravam a expulsão forçada de migrantes que ficaram à deriva no mar.
Mais de 70.000 refugiados e migrantes chegaram aos países da linha de frente da Europa este ano, com a maioria desembarcando na Itália, segundo dados das Nações Unidas.