A cotação do petróleo no mercado internacional e o câmbio não vão dar trégua à economia brasileira nos próximos meses e devem continuar a pressionar o preço dos combustíveis, segundo analistas. A tendência é que a oferta de petróleo e seus derivados, como a gasolina, continue descolada da demanda. Assim, com mais compradores do que vendedores e também com a moeda americana valorizada em relação ao real, a expectativa é de alta de preços nos postos.
No Brasil, onde os reajustes acontecem em linha com as oscilações externas, novos aumentos da gasolina e do óleo diesel são esperados. O último foi concedido nesta semana pela Petrobras e outros devem estar por vir. A gasolina ficou 7% mais cara e o diesel, 9,2%. No ano, os dois acumulam alta de 73% e 66%, respectivamente.
Segundo importadores, ainda há uma defasagem entre os valores cobrados pela estatal e os preços negociados nos principais centros de comercialização do mundo. A Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) calcula uma diferença, na média dos portos nacionais, de 11% para a gasolina e de 13% para o óleo diesel.
Com esse cenário, de preços internos inferiores aos negociados em outros países, não há perspectiva de importadores competirem com a Petrobras no mercado interno de combustíveis. As importações somente vão acontecer em dezembro caso a petrolífera informe, novamente, não ter capacidade de atender toda a demanda.
Neste mês de outubro, a Petrobras chegou a informar às distribuidoras que não importaria combustíveis para complementar o consumo projetado para novembro. As importadoras viram na comunicação da estatal uma oportunidade de substituir parte do seu suprimento. Mas, segundo o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, no fim das contas, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) informou que não há risco de desabastecimento e que a oferta da Petrobras será suficiente para cobrir os pedidos das distribuidoras.
Independentemente do fornecedor da gasolina e do diesel, eles continuarão sendo comercializados a valores equivalentes aos do mercado internacional e corrigidos em dólar. Essas são as variáveis utilizadas pela Petrobras e pelos importadores para definir os preços às distribuidoras, que, por sua vez, repassam as altas aos donos de postos de gasolina.
A fotografia do mercado atual é de cotações elevadas. Vendido a mais de US$ 80, o barril do petróleo do tipo Brent, negociado em Londres, ficou 60% mais caro neste ano e mais que dobrou nos últimos 12 meses.
"Os principais determinantes dos preços no Brasil — preço internacional do petróleo e dólar — continuam pressionando para altas. A defasagem já está significativa. Para os próximos meses, o preço internacional tende a ficar elevado pois os estoques estão baixos e a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) está com condições de controlar a oferta. Pelo lado do câmbio, a situação atual não indica alívio", avalia o professor do Instituto de Economia da UFF (Universidade Federal Fluminense) Luciano Losekann, especialista na área de petróleo e gás natural.
Demanda mundial pressiona
A avaliação da S&P Global Platts é que os estoques de derivados estão baixos nos principais centros de comercialização, justamente quando o inverno se aproxima no Hemisfério Norte e o consumo aumenta.
"O refino, principalmente na Europa e em partes da Ásia, está sentindo uma pressão adicional dos altos preços do gás natural. Refinadores incapazes de substituir o gás por insumos mais baratos podem precisar cortar produção à medida que as margens são comprimidas", afirma a consultoria. Além disso, a S&P Global Platts acredita que a recuperação das economias e da mobilidade continuará sustentando a demanda.
"Como o Brasil é um importador líquido de diesel e os preços locais são baseados em preços de paridade de importação, preços internacionais mais fortes se traduzem em preços de importação mais altos, que pressionam os preços de varejo local", acrescenta a consultoria.